sábado, 15 de junho de 2019

TÃO GRANDE COMO A MARCA DE CAIM

William-Adolphe Bouguereau (1825-1905) - Dante And Virgil In Hell (1850)
Fonte:Imagem extraída da internet



Andei por estradas mais sombrias que o vale da sombra da morte
Eu roubei, eu feri, eu matei cada célula ingênua dentro de mim.
Eu prostitui meus desejos
Eu abortei meus sonhos
Entorpeci minha alma com cada droga conhecida
Violentei as tentativas de sanidade
Fui corrompida pelo medo de enfrentar a vida
Mas sobrevivi
E paguei caro por cada um dos crimes cometidos contra o meu ser
Crimes? 
Meus crimes, minha historia.
Fazendo de mim Juiz e condenado
Carrego comigo a sombra das blasfêmias ingratas vomitadas em copos sujos de botecos imundos
carrego comigo o odor eterno dos corpos nus que meu corpo tocaram
Carrego comigo uma cicatriz que atravessa meu corpo social
Tão grande como a marca de Caim
Onde meus passos marcarem marcada esta minha sentença
Nem mesmo o pálido véu de uma vida hipocritamente correta me inocenta dos crimes do passado
Ah se soubessem que as marcas que vem não retratam a profundidade do que fui um dia
Se soubessem até onde vai a cicatriz deixada pela vida
Cicatriz que atravessa vidas e vidas de existência
Se soubessem...
Melhor que não saibam
Mais pesada seria a sentença.

CRISTINA MEDEIROS DA COSTA

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